terça-feira, 13 de julho de 2010

Uma breve 'pincelada' nas determinantes da perspectiva biológica para a TRANSEXUALIDADE


Para Saadeh (2004), desde pesquisas mais recentes, que envolvem comportamento animal e evolução, até as que relacionam genética e dimorfismo cerebral, todas se baseiam apenas em hipóteses. Historicamente há duas linhas de pesquisa com determinantes na perspectiva biológica: uma que envolve fatores hormonais e outra que busca alterações genéticas e/ou cromossômicas.
A exposição a hormônios sexuais intra-uterinos parece afetar de forma mais significativa os fetos do sexo feminino, o que implica em uma forma atípica de hiperplasia adrenal congênita que aumentaria a produção de andrógenos do feto com conseqüente virilização e efeitos posteriores no comportamento dessas pessoas (Ferreira, 2001). Também temos a resposta anormal do hormônio luteinizante (LH) em homens homossexuais. Haveria uma resposta atenuada após uma injeção de estradiol (hormônio feminino), semelhante ao que se observa em mulheres. A teoria do estresse pré-natal traz que as mães de feto masculino, submetidas a estresse prolongado inibiria a produção de esteróides sexuais fetais, impedindo assim a masculinização (Ferreira, 2001).
Através da influencia da testosterona na função e estrutura cerebral, há observações de que transexuais geneticamente masculinos e homens apresentam diferentes padrões de lateralização auditiva, ou seja, a lateralização auditiva dos transexuais geneticamente masculinos exibe padrões similares ao das mulheres, acrescentando evidencias à hipótese de que a influencia neuroendócrina na modulação da assimetria funcional cerebral não é necessariamente determinada no cérebro perinatal. Essa linha de pesquisa a passou a ser fundamental nos últimos anos (Saadeh, 2004). Outros estudos demonstram as diferenças de tamanho de núcleo cerebral (núcleo intersticial anterior hipotalâmico) entre homens heterossexuais e mulheres e homens homossexuais. O cérebro dos homens homossexuais seria mais semelhante estruturalmente ao das mulheres que ao dos homens heterossexuais (Ferreira, 2004).
As pesquisas genéticas e cromossômicas ainda representam um campo em desenvolvimento, há poucos relatos científicos descrevendo anomalias cromossômicas em transexuais. A ocorrência de transexualismo entre irmãos, familiares e mesmo gêmeos (monozigóticos e dizigóticos) é rara. Há alguns relatos na literatura, contudo são pouco conclusivos quanto a uma causa genética (Saadeh, 2004).
E como podemos ver, nenhuma das teorias de perspectivas biológicas conseguem explicar de fato a transexualidade, claro que nenhuma deve ser descartada, contudo, como afirma Saadeh (2004), não passam de hipóteses. Mesmo sem respostas a etiologia da transexualidade, como podemos atenuar o sofrimento das pessoas com esse alto grau de perturbação de identidade de gênero?
O sofrimento pode ser atenuado através de psicoterapia, terapia hormonal e cirurgia de redesignação sexual. Saadeh (2004), acredita que o tratamento baseado no tripé (psicoterapia, hormonoterapia e cirurgia) alivia a disforia e resolve questões relativas à identidade de gênero. Lins & Braga (2005), trazem que a cirurgia para troca de sexos é a única ponte e a mais utilizada para alterar o “equívoco da natureza” e seu resultado prático nem sempre é excelente, todavia a compensação psicológica faz valer a pena. Já para Ferreira (2001), o tratamento dos transtornos de identidade sexual não tem até o momento, linhas de orientação precisas e aceitas por todos que se dedicam à terapia sexual.
Quando o desejo é trocar o sexo, antes da cirurgia de reatribuição de sexo, a pessoa é acompanhada por psicoterapia e, é necessário viver durante 2 anos, em tempo integral, no papel do sexo oposto. Contudo, pensando nos diversos graus de disforia quanto ao gênero, alguns pacientes podem se beneficiar de terapias que estimulem uma melhor aceitação de sexo biológico. Não podemos ainda esquecer do apoio familiar, do(a) parceiro(a) e da competência da equipe de atendimento.